sábado, 30 de janeiro de 2010

Pelo Mundo


Um sonho meu
Sempre foi atuar
Rodar o mundo
Cruzar o mar
Num teatro errante
Fazer um amor
Ser todo amante
Por onde for
Não sou um ator?
Ou um inconseqüente?
Que a cada cena
Mente e desmente
Para no fim
Não ter enfim
Que se despedir
Olhar nos olhos
Dizer até logo
E depois partir?



Eder de A. Benevides

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Amor, gozo e riso



Amor sou eu
Junto de você
Amor a dois
Mas para que?
E se depois
Desses lençóis
Chamarmos ela
Pintar a tela
Dum amor a três?
Mas outra vez?!
E se no quarto
Surgir um quarto
Elemento amante?
Ele ou ela
Irrelevante
Mais um sorriso
Na brincadeira
Eira nem beira
Cadê o pudor?
Morreu na cama
D’alegria que ama
Até o furor

Re-go-ji-zo

Logo em seguida
Quer-se de novo
Perder o juízo
Deixar um aviso
Estampado na porta
Em escrita torta
“Amor, gozo e riso”.


Eder de A. Benevides

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ne me quitte pas


AAA... eis aqui uma canção distinta. Não é por nada, mas não estão errados aqueles que afirmam ser essa a mais bela canção de amor de todos os tempos. A perfeição com que foi criada, metricamente pensada e riquíssima de lindas metáforas revela os encantos de um autor único. É arrebatador o lirismo desse Jacques Brel, esse músico poeta que na realidade tornou-se o grande bardo dos corações despedaçados, dos cotovelos fatigados e dos olhares perdidos. Mentor e protagonista de uma paixão capaz até de despertar um antigo vulcão "On a vu souvent/Rejaillir le feu/ De l'ancien volcan" e oferecer chuvas de pérola ao seu amor "Moi je t'offrirai/Des perles de pluie/Venues de pays/Où il ne pleut pas". É um amor insano, desesperado e obsessivo; Um amor que implora por não acabar, pois a intensidade do término seria atroz e preferir-se-ia a morte. O poeta traz para nós a essência desse sentimento que para o pensamento romântico burguês é nobríssimo, porém, aqueles que realmente já amaram, sabem que também pode ser vulgar- não no sentido chulo da palavra- e degradante. Esse é Jacques Brel : Apaixonado, brilhante e encantador.
Eder de A. Benevides


Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheur
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'aprè ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vue deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te racontrai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas

Ne me quitte pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas


Jacques Brel

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Tempestade.

Vários são os olhos que me fazem feliz

Olhos astutos
Austeros
Até matutos.

E esse teu olhar
Esse azul reluzente que reflete o mar
É um navio em meio à tempestade.
E por mais que eu me afogue,
Estou assaz longe da felicidade.

Quero bradar!
Enfrentar as ondas corajoso,
Atacar Netuno com os meus braços.
Mas falta-me ar.
Falta-me a segurança
A certeza da vindoura bonança.

És o olhar que me tira o chão
O sono
E a razão.

A fúria dessa tormenta
É intensa na medida de meu desejo.
Desejo-te deveras
Transmuto-me nessa angústia sedenta,
Ávida por tocar a pele de teu rosto
Fitar tua pupila dilatada
Que espera por sentir meu gosto.

Inundar-me-ei de ti.

E quando tudo terminar
Sorrirei a celebração da vaidade
Pela vitória de em teu olhar
Ter, enfim, encontrado a felicidade.






Eder de A. Benevides

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um Diálogo

(Casal conversando em um píer de frente para o mar)


- Hoje foi um dia encantador não? Olhe só ali que crepúsculo fenomenal!(apontando para o horizonte além do mar) Sempre esses derradeiros raios dourados me emocionam. É nostalgia, saudade, felicidade e tristeza. Sinto como se meu coração fosse assaz pequenino para essas inquietações tão grandes que o tomam.

- Disse bobagens. Se estou aqui contigo porque há de sentir tristeza meu amor?(ar lúdico) Oras! Acho que o defeito de seu coração na realidade não são as dimensões, são essas palpitações tontas. Seu coração é um coração tonto meu bem!

- Tonto??! Então observe, mas observe com atenção, note os reflexos do astro poente nesse marzão. Não me diga que não sente nada? Nem uma pontadinha, um estalinho que for?

- Melancolia! Não melancolia de tristeza, é mais um tédio que uma melancolia; É algo como aquela flor amarela, a flor dos hipocondríacos, a flor do Brás Cubas; É um adeus do dia e um lembrete do tempo que não cessa; É a prova que esse dia nunca mais se repetirá, e que os próximos dias não hesitarão em terminar também.

- Mas você não parou para pensar que é a efemeridade que dá sabor aos crepúsculos?

- Sabor?

- Pois é, não só aos crepúsculos, mas a tudo de memorável e importante que acontece em nossas vidas! O que você sente querida, na verdade, é a nostalgia dos bem aventurados a encarar o espelho do tempo!

- Olhe só você! Já vem com esses lirismos e filosofias tontas. Você é tonto igual a seu coração. Não venha me tirar do eixo também!

- Vou exemplificar: Lembra-se do dia em que nos beijamos pela primeira vez?

- Claro que me lembro. Foi após minutos de silêncio, sentados nos bancos traseiros daquele bendito Monza de seu pai. Chovia e estávamos presos; Enquanto as gotas d'água vertiam pelas janelas do carro nossos olhares se encontraram; Depois as bocas...

(Olharam-se e logo após deram um breve beijo)

- Então meu anjo, não é essa uma linda lembrança? Não é gostoso nos lembrarmos de coisas tão boas? O coração palpita, um sorriso engana os lábios, os olhos se fixam em um ponto frívolo. E isso só é possível por conta da efemeridade da ocasião! Imagine só que terrível seria se os momentos não terminassem jamais, como se nossas vidas ficassem estagnadas em apenas um instante importante. Não é bem melhor colecionarmos todos esses momentos em nossos âmagos?

- Aaaa... Mas a efemeridade nem sempre é boa! Lembremos daquelas pessoas que passam em nossas vidas, nos conquistam, nos amam, e mesmo assim, em algum momento, partem. Aquelas doces amizades que acreditávamos ser perenes, que modificaram alguma coisa em nossos cernes. Lembro-me de uma velha amiga de faculdade. Militamos juntas, saíamos juntas, estudávamos juntas....(enxuga os olhos) Quando nos formamos, ela logo passou em um concurso em Santa Catarina e agora nos falamos tão pouco...

- Amor, preste atenção, não é bom saber que uma pessoa passou por sua vida, lhe ensinou um monte de coisas, lhe amou e, por fim, foi importante? Não é bom saber que várias, dezenas de pessoas importantes passarão em nossas vidas, nos ensinarão algo, e o melhor de tudo, nunca deixarão de existir dentro de nós?

- Mas seria tão melhor se essas pessoas estivessem por perto. Nunca partissem. Eu sei que é impossível, cada um é dono de seu próprio destino e deve segui-lo. Essa é a vida, um vai-vem incessante, invencível...

- Essa é a vida, e é por isso que existe o crepúsculo todo final de tarde. É a doce e, ao mesmo tempo, amarga nostalgia que nos permite progredir de pé; Que não se abstém em manter o sabor da vida.

- Sabe amor, o crepúsculo realmente está maravilhoso.




Eder de A. Benevides


(Ps: Eu sei que no Brasil o sol não se põe no mar, mas usemos a imaginação, por que não estariam eles no Chile ou na Califórnia? Esse tipo de crítica é usual daqueles que não têm lirismo no coração. Façam-me um favor!)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Fuga


Quero desencontrar o amor
Caminhar por ruas paralelas
Opostas
Mesmo que haja uma alma disposta
A me encontrar pela cidade
Cruzar comigo num instante
Milésimo de segundo da eternidade.



Eder de A. Benevides

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Tum

O dia passa sempre infalível
Junto às batidas ásperas dum coração
(Ébrio coração)
Aquela rítmica canção

Delirante e inefável
É o órgão cardíaco dos pródigos
Ébrios e insatisfeitos
Como o castanho frívolo de meus olhos

São olhos grandes e claros
Que espelham meu ser inexperiente
e a angústia da incompreensão
(Um ver abrupto de minha mente)

Jogo-me de joelhos
Escureço a visão
Ouço o oxigênio penetrar meus pulmões
Escuto a rítmica do aparelho vão

Tum Tum
Tum Tum
Um presságio?
Um talvez?
Tum Tum
Tum Tum
Não!
Sou eu
Outra vez

Bebendo da insanidade dos loucos
Alucinado com a visão do próprio cerne
As lágrimas vertem
Acompanhadas de soluços roucos
Quase mudos

É a esperança derradeira
A aflição dos iludidos....





Eder de A. Benevides