quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cidadezinha

Imagino eu o lisonjeio
De uma cidadezinha distante;
De casinhas desalinhadas
Cujos detalhes permeio
Das alturas dum mirante.
Têm janelas coloridas
Portas altivas
Como semblantes serenos
Em meio a simplicidade
Que, não sei como,
No léu esquecemos.
Vejo muros vivazes
Cobertos de musgo e cogumelos.
Sobre eles a lira de bardos
Que pelo eco do tempo
Bem foram transformados.
Hoje passarinhos caramelos,
Verdes, lilases,
Cor de terra
Que voam e sobem a serra.
Num casarão lá no alto
Vejo um belo jardim
Com uma única roseira
De flores carmim.
É como o meu coração
Incompreendido pela solidão
E absorto na arte.
Fragmentado como pétalas ao vento
De uma flor fragilizada;
De uma rosa escarlate.
Em um determinado momento
As portas se abriram
E as ruas se encheram
De transeuntes satisfeitos.
Na pracinha da Igreja
Levantaram-se barraquinhas
De comida
De sorrisos
De centenas de pétalas minhas.
A banda passou.
O prefeito se envaideceu.
Um beijo o rapaz roubou.
Defendeu-se.
Por direito o beijo era seu.
Estava já no fim do dia
E junto com o céu
Aquela gente anoitecia.
Amiúde s portas foram fechadas
As luzes acesas
As ruas esvaziadas.
Do mirante a cidadezinha cintilava
Como brilhantes jogados na nostalgia
De um poento viajante
Que ali nunca mais voltaria.


Eder de A. Benevides