terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um Diálogo

(Casal conversando em um píer de frente para o mar)


- Hoje foi um dia encantador não? Olhe só ali que crepúsculo fenomenal!(apontando para o horizonte além do mar) Sempre esses derradeiros raios dourados me emocionam. É nostalgia, saudade, felicidade e tristeza. Sinto como se meu coração fosse assaz pequenino para essas inquietações tão grandes que o tomam.

- Disse bobagens. Se estou aqui contigo porque há de sentir tristeza meu amor?(ar lúdico) Oras! Acho que o defeito de seu coração na realidade não são as dimensões, são essas palpitações tontas. Seu coração é um coração tonto meu bem!

- Tonto??! Então observe, mas observe com atenção, note os reflexos do astro poente nesse marzão. Não me diga que não sente nada? Nem uma pontadinha, um estalinho que for?

- Melancolia! Não melancolia de tristeza, é mais um tédio que uma melancolia; É algo como aquela flor amarela, a flor dos hipocondríacos, a flor do Brás Cubas; É um adeus do dia e um lembrete do tempo que não cessa; É a prova que esse dia nunca mais se repetirá, e que os próximos dias não hesitarão em terminar também.

- Mas você não parou para pensar que é a efemeridade que dá sabor aos crepúsculos?

- Sabor?

- Pois é, não só aos crepúsculos, mas a tudo de memorável e importante que acontece em nossas vidas! O que você sente querida, na verdade, é a nostalgia dos bem aventurados a encarar o espelho do tempo!

- Olhe só você! Já vem com esses lirismos e filosofias tontas. Você é tonto igual a seu coração. Não venha me tirar do eixo também!

- Vou exemplificar: Lembra-se do dia em que nos beijamos pela primeira vez?

- Claro que me lembro. Foi após minutos de silêncio, sentados nos bancos traseiros daquele bendito Monza de seu pai. Chovia e estávamos presos; Enquanto as gotas d'água vertiam pelas janelas do carro nossos olhares se encontraram; Depois as bocas...

(Olharam-se e logo após deram um breve beijo)

- Então meu anjo, não é essa uma linda lembrança? Não é gostoso nos lembrarmos de coisas tão boas? O coração palpita, um sorriso engana os lábios, os olhos se fixam em um ponto frívolo. E isso só é possível por conta da efemeridade da ocasião! Imagine só que terrível seria se os momentos não terminassem jamais, como se nossas vidas ficassem estagnadas em apenas um instante importante. Não é bem melhor colecionarmos todos esses momentos em nossos âmagos?

- Aaaa... Mas a efemeridade nem sempre é boa! Lembremos daquelas pessoas que passam em nossas vidas, nos conquistam, nos amam, e mesmo assim, em algum momento, partem. Aquelas doces amizades que acreditávamos ser perenes, que modificaram alguma coisa em nossos cernes. Lembro-me de uma velha amiga de faculdade. Militamos juntas, saíamos juntas, estudávamos juntas....(enxuga os olhos) Quando nos formamos, ela logo passou em um concurso em Santa Catarina e agora nos falamos tão pouco...

- Amor, preste atenção, não é bom saber que uma pessoa passou por sua vida, lhe ensinou um monte de coisas, lhe amou e, por fim, foi importante? Não é bom saber que várias, dezenas de pessoas importantes passarão em nossas vidas, nos ensinarão algo, e o melhor de tudo, nunca deixarão de existir dentro de nós?

- Mas seria tão melhor se essas pessoas estivessem por perto. Nunca partissem. Eu sei que é impossível, cada um é dono de seu próprio destino e deve segui-lo. Essa é a vida, um vai-vem incessante, invencível...

- Essa é a vida, e é por isso que existe o crepúsculo todo final de tarde. É a doce e, ao mesmo tempo, amarga nostalgia que nos permite progredir de pé; Que não se abstém em manter o sabor da vida.

- Sabe amor, o crepúsculo realmente está maravilhoso.




Eder de A. Benevides


(Ps: Eu sei que no Brasil o sol não se põe no mar, mas usemos a imaginação, por que não estariam eles no Chile ou na Califórnia? Esse tipo de crítica é usual daqueles que não têm lirismo no coração. Façam-me um favor!)

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