terça-feira, 27 de abril de 2010

Lume


Lume

Era um vaga-lume
E um ambiente lúgubre.
Iluminou-me.
Deixou-me tonto.
Aquele serzinho
Rodopiava,
Reverberava
E se ia ao longe.
E no que tange
A minha curiosidade
Gritei!

“Espere!
Segui-lo-ei"

O lusco-fusco
Correu as sombras.
Penetrou a penumbra
Fundo!
Corri por esse mundo
De galhos retorcidos
E sonhos perdidos
No imenso breu.
Por um momento
O inseto desapareceu.
Desesperado
Ajoelhei-me

Chorei.

Todavia, do meu lado
O brilho pertinaz
Num movimento aéreo
Ressurgiu.
Passou por mim.
Olhei para trás.
Fiquei atônito.
Eram tantos!
Carentes de fim.
Mil
Milhares
De dançarinos alados;
Sonhos desencontrados
Que subiam ao céu de ônix
E numa valsa sublime
Adornaram a pedra nua.
O clímax!

Formaram a lua.

O mundo se iluminou
Por um instante.
Era cristalino;
Diáfano
Como diamante.
Minhas pernas trepidavam
E meu corpo estremeceu
Ao caminhar pelas terras
Desse reluzente mundo
Cuja existência não conhecia,
Mas que sempre foi meu.


Eder de A. Benevides

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Galáxia: segundo



Há um liame entre as conexões
desesperadas de meus pensamentos
e o papel.
Um portal que se abre a um mundo novo.
Um mundo sem terra, mares e céu.
Apenas o infinito diametral do éter.
Torno-me, junto ao todo, etéreo.
As palavras ganham um sentido fora;
Alheio a todos os cinco sentidos.
Apenas o âmago compreende.
E apenas as almas aflitas alcançam
o que no universo o poeta arremessou.
Talvez sejam apenas letras perdidas ou,
com todo o meu querer, estrelas que
ganham sentido;
Novo brilho ao nascer.



Eder de A. Benevides

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Certa vez conheci um velho José Borges

Certa vez conheci um velho José Borges.
Homem de fibra, vida e cicatrizes
cuja terra, mãe das diretrizes,
o faiscava o olhar.
Brilhante porém severo como são
os anos que o consomem as fibras;
Que marcam o seu rosto da forma
que a inchada marca o chão.
É pião duma guerra atroz.
O tabuleiro: a terra.
De um lado o homem
Do outro também o homem.
José Borges é camponês e artesão.
Fabrica cigarros de palha grandes
como charutos, mas não tão grossos.
São frutos, assim como a labuta na terra,
dessa malha que cobre o seu corpo e que,
arraigada a sua pele, constitui
o seu próprio couro.
José Borges.
José Borges e tantos outros nomes.
Outros olhares.
Ou talvez o mesmo.
Esse olhar cujo desejo vai além da terra.
Almeja que lindas flores brancas
pintem os campos e cubram
as pétalas vermelhas dos sonhos tombados
no calor entre as centelhas;
No horror dessas tantas batalhas.


Eder de A. Benevides

domingo, 4 de abril de 2010

Cigarro


Cigarro.


Vide “Cigarro”.
Remete a escarro.
Componente bizarro
Das tosses frenéticas
De pulmões degradados
Por boemias banais
Ou sonhos demais.
Sonhos exaurem;
Consomem os espíritos
Que tentam ir além
E buscam no cigarro
O que os torna refém
No corpo e na alma

No óbito também.

Tenho rinite
Quero parar de fumar
Mas quero outro vício
Que sustente meus sonhos
E minhas noites insones
Numa mesa de bar.
Quero vício
Artifício de ir além
Não ser o que fuma,
Mas ser
Com vício e ato
Aquele que faça
Algo além da fumaça.



Eder de A. Benevides