sábado, 10 de agosto de 2013

Folha

Sou  folha fresca que cai sobre água corrente.
Guiando-me, sinuosa, entre os vales desse mundo.
Vi os campos de trigo de Van Gogh e fui esmagado
sob o seu céu de inefáveis estrelas. 

No caminho das águas tornei-me as estações.
Já iluminei os dias ensolarados de janeiro.
Por mais de uma vez fui o amarelo, o laranja e o vermelho.
Por pouquíssimas, soprei o gélido ar do inverno.

Na correnteza, senti deveras mais do que  vi
Senti uma falta tremenda das águas pretéritas;
Até de águas pelas quais nunca errei.
(estranha essa suspeita de ter vivido o absurdo)
Vi o vento carregar palavras e gargalhadas e olhares
para longe...
Como se fossem poeira.

Receio ainda não ter visto muito do caminho.

Hoje, prefiro ser primavera.
Prefiro ser o mensageiro de incontáveis campos floridos
E desbravador de um momento inédito.
Não quero o bucolismo que encontrou Werther
Porque, dele, obteve apenas ilusão.

Na aurora, em meio ao orvalho sobre o solo delicado,
Verei o otimismo brotar triunfante. 
Resultar em flores concretas que sobreviverão;
Que relutarão em se tornarem memória em meio 
ao livro sem lembranças.

Doravante sou pétala entregue à brisa.



Eder de A. Benevides.