Sou folha fresca que cai sobre água corrente.
Guiando-me, sinuosa, entre os vales desse mundo.
Vi os campos de trigo de Van Gogh e fui esmagado
sob o seu céu de inefáveis estrelas.
No caminho das águas tornei-me as estações.
Já iluminei os dias ensolarados de janeiro.
Por mais de uma vez fui o amarelo, o laranja e o vermelho.
Por pouquíssimas, soprei o gélido ar do inverno.
Na correnteza, senti deveras mais do que vi
Senti uma falta tremenda das águas pretéritas;
Até de águas pelas quais nunca errei.
(estranha essa suspeita de ter vivido o absurdo)
Vi o vento carregar palavras e gargalhadas e olhares
para longe...
Como se fossem poeira.
Receio ainda não ter visto muito do caminho.
Hoje, prefiro ser primavera.
Prefiro ser o mensageiro de incontáveis campos floridos
E desbravador de um momento inédito.
Não quero o bucolismo que encontrou Werther
Porque, dele, obteve apenas ilusão.
Na aurora, em meio ao orvalho sobre o solo delicado,
Verei o otimismo brotar triunfante.
Resultar em flores concretas que sobreviverão;
Que relutarão em se tornarem memória em meio
ao livro sem lembranças.
Doravante sou pétala entregue à brisa.
Eder de A. Benevides.
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