domingo, 6 de maio de 2012

A Bomba do Amor - Parte 2

Fica aí a segunda parte de meu conto. Nessa segunda parte me inspirei em um de meus heróis literários.  Quem leu o "Cem Anos de Solidão" terá - espero eu - uma feliz surpresa. Um grande abraço para os leitores.


A Bomba do Amor - Parte 2



Meméia era a pequena Amélia quando chegou das cidades mais remotas que se podia ouvir dizer uma caravana de ciganos. Estava no quintal da antiga casa em que viveu a sua meninice  no momento em que o badalar dos sinos, as cantorias e o barulho das portas das casas se abrindo tomaram conta da pequena cidade. Correu para rua e se deparou com a festa dos ciganos que traziam consigo novidades e apetrechos dos mais exóticos e curiosos. Os vizinhos comentavam a grande visita. Uns estavam ansiosos por conhecer todo aquele mundo trazido de outros mundos. Outros maldiziam aquela gente; os chamavam de pagãos, charlatões e folgados. O importante é que a pequena cidade viveu por alguns dias uma grande festa trazida pela alegria daquela gente. Espalharam as lendas de seu povo: a do terror dos lobisomens, que faziam suas vítimas nas ruas da Romênia; a do povo que vivia nas profundezas da terra e que, por fim, conheceu a luz; a da cigana Esmeralda...

Ergueram, no perímetro da praça central da cidade, uma esplendorosa feira, dessas que não existem mais. Estava linda, muitíssimo colorida com tendas e barraquinhas ricamente adornadas de pedras preciosas e bordados brilhantes. No centro montaram um grande palco onde ocorreram apresentações e exibições memoráveis. Fora frequentada por todo tipo de gente, principalmente por viajantes que vieram das cidades ao redor para conhecerem os ciganos.

Numa tenda, em meio a feira, Amélia procurava pelos objetos que permeavam a sua imaginação, os quais recordava dos livros de contos de fadas e dos ludibrios contados por sua mãe ao pé de sua caminha. Imaginava que encontraria tais relíquias com os surreais nômades, pois tudo lhe parecia misterioso, místico e encantado. Dentre todas as estórias de sua infância, gostava mais daquelas sobre as maravilhas árabes e, por isso, procurava algo em especial. Fora a feira com o intuito de achar, principalmente, uma lâmpada mágica! Como aquela da estória do Aladim. Lembrava-se daquelas páginas inimagináveis e no que fazer com três incríveis desejos a serem realizados. Procurara por várias tendas. Vira máquinas impressionantes, cuja função sequer podia entender, engenhocas dos mais diversos tipos para as praticidades do quotidiano; vira a tenda do homem engolidor de espadas, dos mágicos ilusionistas e vira, também, os intrigantes espetáculos de adivinhações. Não encontrara a sua lâmpada maravilhosa. Não obstante, seria nessa tenda que encontraria algo de importância semelhante.

De um canto escuro um velho cigano a chamou pelo nome. Era encurvado, com roupa excentrica e gravidade na fala. Amélia se assustou com a voz rouca e a clarividência do homem.

- Não encontrará nenhuma lâmpada mágica. Já deixaram de ser produzidas há algumas eras. Os gênios arquitetaram uma grande rebelião e fugiram para os mundos em que a magia é livre.

- Como sabia que eu queria uma lâmpada?

- Eu sou cigano, se esqueceu? Nós temos o dom da vidência. Nos foi dado em troca de nossa terra. Viajamos e não podemos criar raízes. E essa é a nossa sina e nossa alegria - sorriu o velho que já não parecia mais tão assustador.

- E você já conheceu um gênio?

- Mais do que isso. Já tive uma lâmpada mágica!

- E quais foram os seus pedidos? - Perguntou Amélia com as mãozinhas na boca e as pernas inquietas.

- Olhe, eu nem me lembro. Faz tanto tempo que a minha memória me trai. Devo ter pedido coisas que um tolo como qualquer outro pede. Riquezas, vida eterna... Mas, isso não importa mais. Trouxe um presente para você, pois sabia que a encontraria por aqui. Conheço-a de muito antes do seu nascimento nessa era.

O velho tirou um pêndulo de cristal de seu bolso e colocou entre os dedinhos da jovem Meméia.

- O que é isso?

- É um pêndulo mágico.

- Mas, o que ele faz?

- Isso já é outra coisa. Como eu disse, sou velho e minha memória não é mais a mesma. Só me lembro que o trouxe e que o deveria lhe entregar. Mas o motivo... o motivo... desse tão pouco me recordo. Mas o guarde com carinho, porque um pêndulo mágico não é qualquer coisa. Magia é algo tão raro em nosso mundo. São poucos corações que são capazes de utilizá-la. Isso! - exclamou o velho em um pulinho - essa é a razão de eu lho dar.

- Como assim?

- Não me pressione, agora eu preciso partir. Vá e se lembre que esse foi um presente do velho Melquíades.

No alvorecer não havia mais adivinhos, ilusionistas e comerciantes fantásticos na cidade. Sobraram apenas os vestígios e a saudade daquelas pessoas.



Eder de A. Benevides

2 comentários:

  1. mas o motivo... o motivo... (sensação visual)

    qual? qual? qual? qual? (reação cerebral)

    hmm, só no próximo. (resposta racional)

    poxa, vou ter que esperar.
    \o

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