quinta-feira, 3 de maio de 2012

A Bomba do Amor - Parte 1

Gente, resolvi escrever um conto um pouquinho mais comprido, no estilo de uma novela. Tive essa idéia de como seria construir uma bomba do amor, de como isso seria interessante e comecei a desenvolver um texto. Não o terminei, vou escrever por partes mesmo e prevejo, no máximo, umas 5 partes. Um bom jeito de me manter por aqui e voltar à velha forma. Optei por uma prosa bem infantil mesmo, até porque infância é uma de minhas temáticas preferidas e nunca escrevi prosas nesse estilo, apenas poesias. Enfim, espero que gostem. Se não gostarem, valeu a experiência.


A Bomba do Amor.



Lucas tivera uma grande idéia, queria construir uma máquina do amor. Entretanto, não tinha nenhuma pista de por onde começar. Acabara de ler O Pequeno Príncipe que a sua avó lhe dera de presente de aniversário, e chegou a conclusão de que o único remédio para o mundo era a construção de uma máquina com o poder de extinguir a tristeza da vida. Refletiu a tarde inteira, pegou folhas de papel, as canetinhas e começou a esboçar o incrível dispositivo. Seria como uma bomba, um poderoso explosivo cujo raio de eficácia atingiria até os cantos mais escuros da realidade. Sempre fora seu sonho ser um cientista desses bem inteligentes com a capacidade de influenciar gerações, mas, no momento, suas ferramentas máximas eram as canetinhas.

Queria ligar para os amiguinhos, mas eles ririam dele, pois tinha consciência de que a idéia poderia parecer tola. Será que poderia contar com a ajuda de alguém? Mas de quem? Lembrou-se da Vó Meméia e logo pegou a bicicleta e rumou para sua casa. Só a avó o entenderia, sabia que poderia contar com ela. Chegou no portão "Vó! Vó! Vó!" e logo foi entrando. Colocou a bicicleta de baixo da larangeira do jardim e correu para cozinha de onde vinha um incrível cheiro de chocolate. Lá estava a alegre velhinha, com as mãos na colher de pau, escorrendo a calda de chocolate sobre um bonito bolo de cenoura.

- Vó! Eu preciso de sua ajuda!

- Lucas, primeiro me faça um favor, vá na despensa e pegue o saco de nozes para mim.

Pegou o saco e o levou para a experiente confeiteira, que o abriu e jogou as nozes sobre a cobertura do bolo. Lucas correu, e, sem nem mesmo ser requisitado, pegou os pratinhos e as colherzinhas de sobremesa. Vó Meméia cortou dois grandes pedaços, uma para ele e outro para ela.

- Vó, eu quero construir uma máquina do amor!

- E como você pensa em fazer tal façanha?

- Eu não sei! Por isso eu preciso de sua ajuda. Só você pode me ajudar.

- Por que você não faz uma máquina de chocolate? Todo mundo ama chocolate.

- Vó! É sério! Eu quero construir uma máquina que faça as pessoas serem boas e felizes.

A avó compreendera o querer de Lucas. Os dias não estavam fáceis. Alguns meses já se passaram desde que o pai deixara ele e a mãe, sua filha Luiza. Os dias passavam e Luiza não deixava o quarto e a cama. A tristeza de Lucas tornava-se cada dia maior com toda a situação presente.A sucetibilidade da infância tem a vantágem de se transformar em esperança, diferente do pessimismo da maturidade. Meméia colocou as mãos no queixo reflexiva "uhm, uhm, uhm...".

- Mas como você quer que essa máquina seja?

- Como uma bomba!

- E você sabe como uma bomba funciona, Lucas?

- Não.

Foi o "não" mais decepcionado já dito por ele. Não tinha idéia de como uma bomba funcionava. Como dessa forma poderia construir um explosivo da espécie que ele queria? Depois de segundos de perplexidade, de súbito, sorriu. Viu na expressão da avó que alí vinha uma resposta. Ela o contaria como construir a sua grande ivenção, pois era, além de tudo, sua heroína. Vó Meméia sempre tinha resposta para todas as suas dúvidas. Desde bem novinho escutava as estórias que ela o contava, da sua juventude como inventora. Trabalhara em um laboratório secreto de onde sairam os aviões supersônicos, os robôs que se disfarçam de gente porque queriam ser humanos, as naves espaciais e as máquinas do tempo. Uma bomba do amor seria moleza para ela!

- Olha, as bombas de verdade são muito diferentes da bomba que você quer construir. Uma bomba explode por causa da nitroglicerina que existe dentro dela.

- O que é nitroglicerina?

- É uma substância super perigosa, que causa uma grande explosão. A nitroglicerina é tão perigosa que qualquer impactozinho pode fazê-la colocar tudo para os ares.

- Mas vó, não dá para construir a bomba que eu quero desse jeito, não é?

- Claro que não! Nós temos que achar uma substância tão perigosa quanto, mas que, em vez de destruir, espalhe o bem. Mas tem um porém, essa substância é muito particular, ela vem do fundo do coração das pessoas. E só pode ser extraída do próprio sentimento.

- Como assim?

- Oras, como a água vem da fonte, o amor vem do coração, no caso, a nitroglicerina do amor. Espere um minutinho.

Meméia foi até o quarto, abriu a gaveta de sua cômoda e de lá tirou um objeto. Levantou-o e o fitou por alguns segundos. Aquilo parecia ter importância em sua longa vida. Não fora ontem que sonhara pela primeira vez. Era criança igual o neto quando fez de seus sonhos o caminho de toda sua existência. Sonhar é um júbilo inigualável e sempre julgou traição agir em contraste com os seus ímpetos oníricos. Lucas era um menino sensível igual a menina que já fora. É assim que homens e mulheres se tornam diferenciais nesse mundo, através do não desperdício de suas sensíveis peculiaridades. Lucas construiria a sua bomba do amor.

Um comentário:

  1. Esplêndida inspiração!

    Mesmo querendo saber se a bomba do amor será construída ou não, e imaginando aqui se ela será exatamente da forma como a pensei, vou me segurar e ler uma parte por dia; naquela famosa sina dos bons textos.

    abraço, até a Parte II

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