quinta-feira, 2 de maio de 2013

Náusea


O desapego da vida lhe parecia ressaca
Que teve de alguma bebida rubra oxidada.
Doía-lhe a cabeça a música do dia;
Notas que lhe eram incessantes marteladas na mente.

"O que me restou do vão toque?
Das sílabas fugitivas dos lábios aveludados
Que se tornaram letras tortas e caídas
Como anjos que vertem dos céus? "

Atravessara, esperançosa, o beco do seu íntimo,
Cruzou a porta do puro prazer dos corpos.
Entretanto, ele tinha a pélvis entre outras pernas.
Não era o seu suor sobre aquela pele.

Ordenou que continuassem a dançar o balé; 
O coito pútrido do adultério.
Queria assistir o espetáculo de movimentos,
De odores e gemidos - menos doces que os seus.

Foi na direção do piano de frente ao divã musgo,
Sentou-se e tocou Chopin de olhos fechados
Para que ouvisse os sons de la chambre junto aos tons.
Seria a derradeira trilha da perfídia.

Fez do piano instrumento austero.
Amassava as teclas com a força de suas lágrimas.
Um eclipse tampara toda luz do mundo.
E da realidade só podia capitar os sons.

E as imagens de sua mente.

Era seu cabaret de Toulouse Lautrec
As notas ganhavam textura e davam perspectiva.
Os gritos, as respirações fortes e o ranger do divã
Eram os mais impetuosos traços numa tela etérea.

Fantasie Impromptu trouxe os acordes do gozo.
Mas não deixou que se regozijassem
Pegou o revolver e os mandou ao submundo
Sem moedas para que entregassem ao barqueiro.

Dentro a alma se tornou o vinagre que sucede o vinho
E a tormenta daquela mente nunca cessou.
Da janela de sua cabine observou as águas turvas.
Fez da tempestade uma eternidade de náusea.

Eder Benevides

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